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Luciano Rodrigues

Luciano R. Rodrigues*


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Quando eu era criança

 Quando eu era criança, achava que ia conquistar o mundo. Imaginava que, quando crescesse, seria rico, bonito, famoso e teria salvado a humanidade ou, pelo menos, ter participado ativamente de algo assim. Eu seria "O Escolhido", o próximo Neo. Eu estava predestinado a ser "the last man stand". Claro que o tempo passou, eu cresci, amadureci, caí na real e percebi que, pra começo de conversa, eu era preguiçoso e egoísta demais pra ser assim tão importante. Mas peraí? Quer dizer então que eu decepcionei aquela pobre criança que, duas décadas atrás sonhava com as estrelas? Não é bem assim... 


Pensando nisso, imaginei que se pudesse voltar no tempo, visitar a mim mesmo na infância, lá pelos 12 ou 14 anos, o que aquele garoto sonhador acharia. Ficaria chateado, desiludido? Desistiria de seus sonhos? E me surpreendi ao ver que não. Que no fim das contas, contando as mudanças de curso e os cálculos de novos destinos que fiz no GPS da minha vida, segui o caminho que sempre quis (claro, desconsiderando a parte de salvar o mundo e etc).

Sempre quis escrever, trabalhar e viver disso. Lembro quando, aos 9 ou 10 anos, minha professora da segunda série, a dona Terezinha, disse que sonhava com nosso sucesso, que seria uma realização um dia no futuro, pegar, por exemplo, um livro e ver meu nome como autor. E isso era um grande sonho meu, que consegui realizar, até agora com dois livros, a coletânea de contos "Crônicas Noturnas" e o romance (que não é um livro de amor) "Ted – Posso Ajudar?" e espero publicar muitos outros ainda. Sim, o mocorongo que eu era provavelmente perguntaria "Mas você ganha fortunas com os livros?". Claro que não. Mas como jornalista, me conforta poder trabalhar com uma coisa que me dá muito prazer e receber pra escrever. Isso é demais!

Mas nem todos os meus sonhos eram assim mesquinhos, eu também queria ser uma pessoa que vivesse bem com a família, tivesse bons amigos, pessoas em quem pudesse confiar e, principalmente, ser uma pessoa confiável. E fico muito feliz por ter várias pessoas com essas características na minha vida, desde os meus pais, família e vários bons amigos, que sempre fazem os tons de cinza do dia-a-dia ficarem mais coloridos e, claro, minha esposa que está sempre ao meu lado e que não poderia ser melhor nem se eu a tivesse imaginado.

Então, talvez eu até desse alguns conselhos pra mim mesmo. Umas dicas pra vida ser mais fácil, quem sabe? Tipo, "escolhe o Pikachu, escolhe o Pikachu!". Mas seria melhor não, essa trapaça poderia impedir que eu passasse por certas coisas e me privar do amadurecimento natural. E quando voltasse pro presente, talvez tudo estivesse diferente e eu fosse um engenheiro rico que desvia dinheiro público, ao invés de um jornalista pobre, mas feliz... Enfim, eu diria que vale a pena sermos nós mesmos, que os sonhos podem se alterar, alguns são deixados pra trás, mas que, nossa essência, pra continuar existindo, depende apenas da gente mesmo. É você, e ninguém mais, que vai decidir quem você será no futuro, que tipo de adulto vai se tornar.

Tirando os fatores externos e alheios à nossa vontade, tipo ter deixado o Will Smith salvar o mundo sozinho quando os alienígenas invadiram, hoje sou exatamente quem eu quero ser. E bastante feliz por onde cheguei e como cheguei. Espero que daqui a vinte anos, na próxima viagem de volta, a sensação seja a mesma.

E você, já olhou pra você mesmo e perguntou se era isso que queria pra você e pra sua vida? E se não era, está esperando o que pra mudar? Ao contrário do que afirmaria o Danilo Gentili em seu programa, nunca é tarde.

* Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
lurodriguez@rabiscando.com

 

 

 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Beleza Se Põe À Mesa

 


Dizem que beleza não se põe à mesa. Eu discordo. Acho que a beleza influencia em nossas decisões, nos guia e nos leva a fazer coisas certas e erradas, principalmente nos relacionamentos. Enfim, acho que a beleza é o carro chefe para amar alguém. A questão, a grande questão, não é essa. E sim, o que é a beleza.



Algumas (muitas) pessoas podem dizer que a beleza é aquilo que os olhos veem. Que é a simetria nos traços, a cor dos olhos ou da pele, o tamanho dos seios ou a maciez dos cabelos. É, mas estão erradas. Isso não é beleza. Pelo menos, não a beleza que leva ao amor, ela é muito mais que isso.



A verdadeira beleza está no olhar daquela pessoa, que tem olhos que passam despercebidos por todos, mas que brilham ao encontrar os seus. Está naquele sorriso que não é de comercial de creme dental, talvez nem tenha o hálito mais fresco e os dentes mais brancos, mas ilumina todo o ambiente quando você o vê. Está naquele andar desengonçado, mas que você acha gracioso. Está nos gestos desastrados, no mau-humor matinal e até na falta de paciência. Está na silhueta, que pode não ser daquelas que estampam revistas, com quilinhos a mais, mas que, mesmo assim, definem o seu padrão.



Essa beleza, a verdadeira, também enxergamos sem usar os olhos. Quando ouvimos aquela voz que acelera o coração ou aquela risada que nos parece música. Quando um hábito simples se torna uma referência, piadas ruins nos levam aos risos e mesmo os piores filmes ou programas de TV, ficam divertidos. Podemos sentir essa beleza quando nos falta algo ou alguém. Quando a espera é muito longa e a ansiedade faz o tempo se arrastar. Quando as piores ideias e os planos mais mirabolantes parecem fazer sentido. Quando uma ruga ou cabelo branco deixa de ser envelhecimento para ser charmoso. E quando todas as outras pessoas passam a ser consideradas bonitas dependendo do quanto se parecem com aquele alguém.



Encontrar essa beleza nem sempre é fácil. Na verdade, nunca é. Nos apegamos demais em questões menos importantes, como a aparência física, por exemplo. Ou o que os outros vão pensar. Ou nos perdemos num monte de outras besteiras, afinal, como humanos, somos todos um bando de bobocas sempre à procura de algo. Buscas que parecem nunca ter fim, por dinheiro, emprego, o corpo perfeito, o carro mais veloz, a banda larga mais rápida, o chocolate mais doce, a cerveja que mais desce redondo, o banco feito para você, a onda perfeita, a batida perfeita, amores-perfeitos... enfim, a busca nunca acaba.



 Mas vale a pena procurar, "no armário, no abecedário, embaixo do carro, no negro, no branco, nos livros de história, nas revistas e nas rádios, procurar pelas ruas, onde mora sua mãe, nos quadros de Botero, no seu porta-moeda, em duas mil religiões e até em suas canções", como diria Shakira, procurar em todos os lugares. Porque a beleza está  mesmo nos olhos de quem vê.



* Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
E-mail: lurodriguez@rabiscando.com 

Acabou a pizza 

Junho/2013




Eu tinha um texto preparado pra coluna esse mês, já tava até escrito e revisado (mentira, tava só na mente...), mas não pude evitar escrever algo relacionado aos protestos e manifestações que tomaram conta do Brasil e influenciaram apoio de brasileiros espalhados pelo mundo.

         Sou brasileiro (com muito orgulho, com muito amor... odeio essa música!) e fiquei bastante animado com tanta gente saindo às ruas, mostrando estar insatisfeito e disposto a mudar. O país tem uma quantidade tão grande de coisas erradas, que me admira conseguirmos suportar passivamente tanto tempo. Claro que havia focos aqui e ali, grupos lutando por seus direitos e reivindicando melhorias. Mas as injustiças continuavam, afinal, não havia força, até que os famigerados 20 centavos serviram de estopim para dar coragem de reclamar de muita coisa que não está certa. Mas ‘pera lá. Isso resolve? O Brasil agora vai virar o paraíso na Terra? Não é bem assim e ainda é muito cedo pra dizer que essa grande manifestação vai ter bons resultados, embora a primeira vitória, com a redução da tarifa dos ônibus em várias cidades, já tenha sido alcançada e seja inevitável reconhecer que esse levante é muito melhor do que a letargia. Por outro lado, é preciso muito cuidado com uma pequena parcela infiltrada nos grupos com interesses partidários ou que procuram benefícios próprios. Com relação aos vândalos e àqueles que praticam saque, nem vale a pena falar, mas também não dá pra ignorarque podem ter um papel importante em tudo isso.

         Outra coisa que precisa ser levada consideração é o interesse político e do que está acontecendo. Não adianta ir pra rua de forma alienada, depois votar em qualquer um. Claro, ninguém quer um Big Brother com políticos e nem fazer do TV Senado o canal mais assistido da televisão, mas é preciso se informar, pesquisar em quem vai votar. É bem provável que a maioria das pessoas nem se lembre em quem votou nas últimas eleições. Porque não é só
ir lá e apertar uns botões na urna, dar um voto pra quem tem mais chances de ganhar segundo as pesquisas, não, tem de fazer valer. Vote em quem você acredita que possa fazer alguma diferença, mesmo que ache que ele não tem
chance de ganhar. Se não votar, ele não vai ganhar nunca mesmo.
         De qualquer forma, conheço muitas pessoas que foram pra rua pra dizer “eu estava lá, lutando pra mudar o país”. Tenho orgulho do entusiasmo, embora também haja os que foram só pra tirar foto e colocar no Facebook, sem saber exatamente o que mudar ou como. Mas a verdade é que a mudança, para o bem ou para o mal, está aí, batendo às nossas portas, nas ruas e calçadas. São tantos lados que podem ser analisados, tantos caminhos que podem ser seguidos que é difícil prever o que virá a seguir. Há previsões otimistas e pessimistas e eu só espero que o melhor aconteça.

         Mas é inegável que um dia, num futuro onde talvez nem eu ou você estejamos mais aqui, os livros de História vão se lembrar desses dias, vão falar da grande manifestação que começou em 2013 e movimentou todo o país e brasileiros espalhados pelo planeta inteiro. Talvez falem também de como as redes sociais da época e a internet tiveram um papel fundamental – para o bem e para o mal – no protesto. E nesse exato momento, estamos vendo a História acontecer. Mais do que isso, estamos fazendo parte dela. Nossos nomes não estarão lá, grafados, como D. Pedro ou Princesa Isabel, mas o que será do Brasil no futuro, é responsabilidade de cada um de nós. Que bons frutos floresçam dessa ação tão gigante que começou agora.

         E que, talvez, nesses dias futuros, nas escolas as crianças aprendam que o Brasil é um dos melhores países do mundo para se viver e estudem esses dias como os que deram o pontapé inicial – com o perdão do trocadilho – para que isso fosse realidade.
         E quando esse dia chegar, que “acabar em pizza” faça tanto sentido quanto “cair a ficha”.



* Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
E-mail: lurodriguez@rabiscando.com

  

Tecnologia de Ponta a Ponta

 
Maio/2013

Sou o tipo de pessoa que gosta de tecnologia e, embora nem sempre consiga fugir do complexo de “antigamente que era bom”, gosto de estar por dentro das novidades tecnológicas e imaginar futuros (e se forem com apocalipse zumbi, tanto melhor). Mas ultimamente isso está ficando cada vez mais difícil, afinal, a tecnologia já bateu à nossa porta. Ou melhor, está bem diante dos nossos olhos, literalmente, no caso do Google Glass. Pra quem não sabe, o tal é um óculos desenvolvido pela Google que tira fotos, grava vídeos, faz ligações, envia mensagens, busca rotas, entre outras coisas mais. E tudo isso, num óculos, ali, bem diante da sua cara. Imagina só, se hoje, as pessoas já andam trombando com as outras na rua, dirigem ao mesmo tempo que atualizam o Facebook ou mandam SMS com o celular, imagina na Copa, digo, imagina no G-Glass? Pois é. Fico pensando se ele vai ter funcionalidades como dos filmes de espionagem, em que você olha para a pessoa e o aparelho te dá os dados dela, mais ou menos o que a visão em raio-x do Batman faz no jogo Arkham Asylum e Arkham City (e pra quem nunca jogou qualquer um dos dois, meus sinceros sentimentos).

        Mas o G-Glass (será que posso registrar essa abreviação? Nunca vi ninguém usando antes) não é a única novidade que parece ficção científica. Dias atrás li sobre uma arma, criada com peças de uma impressora 3D, que funciona e dispara normalmente. E isso é só o começo da tecnologia das impressoras 3D, cogitam criar alimentos com ela. Já imaginou? Nesse ritmo, num futuro não tão distante, ao invés de procriar pra ter um filho, você pode projetá-lo no computador, imprimir e montar! Muito mais fácil, ainda mais pros nerds sem muito traquejo pra arrumar uma namorada e proliferar a espécie (e quem se identificou levanta a mão \o).

        Outra tecnologia que também me chamou bastante atenção foi um projeto de realidade aumentada para videogame. O aparelho, uma espécie de projetor, usa todo o espaço à frente para criar a imagem, que não fica mais limitada à televisão. Prevejo muitos acidentes, muitas coisas quebradas e muitos ataques epilépticos. Mas muita diversão também (tô dentro desde já!).

        Claro que essas são apenas algumas das novidades entre vários destaques que vão surgir nos próximos meses e anos (minha esposa adorou a roupa que só precisa ser lavada a cada três meses, por exemplo) e eu gosto de pensar que a tecnologia é uma ferramenta que deve ser usada para tornar nossa vida mais fácil, mais divertida, mais tranquila e confortável. Claro que, infelizmente, a maioria delas só chega a nós, reles mortais, depois que começam a deixar de ser novidades e começam a baratear. No caso do Brasil, pior ainda, já que lutamos pra encontrar um 3G de qualidade enquanto no mundo afora o 4G já é quase tecnologia de museu. Mas isso é um luxo pra quem mora na região de São Paulo ou nos grandes centros... que digam meus amigos de lugares mais afastados (Abraço Tabatinga!). E também penso se com todas essas tecnologias não seria possível levar água pro Nordeste? Acho que até dá... mas daí, que trunfo os políticos teriam pra conseguir votos por lá?

        Enfim, como já disse, gosto de tecnologia. Acho admirável observar o tanto que o ser humano evoluiu e criou através dos tempos. Mas também fico admirado quando um homem adulto abusa de uma criança. Quando um grupo de torcedores agride alguém apenas por torcer pra um time diferente. Quando falsos pastores enriquecem convencendo milhares de pessoas a dar-lhes seu suado dinheiro. Quando percebo que a cor da pele ainda é mais importante pra muita gente do que o caráter. Nesses aspectos, parece que a humanidade ainda vai precisar de mais milhares de anos pra evoluir, infelizmente. Mas, quem sabe alguém crie uma máquina que nos ensine a ser melhores? Seria ótimo.

* Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
E-mail: lurodriguez@rabiscando.com


 

A Difícil Arte da Rabugência

 

Abril/2013

 

Esse mês, faço aniversário, completo 33 anos. “A idade de Cristo!”, diriam alguns, mas eu nunca entendi o motivo da comparação. Estariam sugerindo crucificar o aniversariante? Espero que não. Insinuando para que ele traga vinho, talvez? Posso providenciar. A não ser alguém esteja pensando em dirigir em seguida, o que a lei proíbe.




Besteiras à parte, foi-se há muito o tempo em que eu aguardava ansioso pra ganhar algum presente (uma espada de plástico do He-Man é o primeiro que me vem à mente) ou bolava estratégias para não tomar ovada na escola (e meu lado ninja sempre teve sucesso nesse quesito), e o que me restou foi a percepção de estar ficando velho, constatada pela
rabugência, que eu costumo chamar de sensocrítico, mas que, muitas vezes, é só isso mesmo: rabugência.



Na infância, demorei um pouco para entender como ser paciente, muitas vezes minha colaboração em passeios com a minha mãe era comprada com um pastel e um guaraná (que tinha de ser Antarctica, senão eu não ficaria legal como as pessoas do comercial), mas aos poucos aprendi a esperar, aguardar, relevar; o que me tornou um sujeito calmo e de convivência fácil (segundo pesquisas realizadas pela universidade de Massachusetts), por isso mesmo é difícil admitir que nem sempre consigo aceitar ou mesmo conviver tranquilamente com algumas coisas. Por exemplo, programação de domingo na TV. Conheço pessoas que se consideram amigos da Regina Casé e do pessoal que frequenta o Esquenta (rima bisonha na frase detectada). Outros fazem questão de ver artistas famosos chorando no Faustão, Gugu entregando casas ou os quadros enfadonhos do programa da Eliana. Mas pra mim? A TV poderia pegar fogo no domingo. E nos outros dias da semana também. Tento acreditar que essa postura é porque, graças à internet, acompanho quase tudo pelo computador (coisa de gente moderninha), mas sei que, no fundo, é só uma desculpa. Afinal, o Faustão está aí há... bom, desde que me lembro, pelo menos, e a culpa de não suportar suas piadolas ofensivas, recheadas de clichês datados, só pode ser minha. A música do Fantástico então, me dá vontade de pular da varanda. Coisa de gente ranzinza. Mas vá lá, tem coisas que eu gosto na TV. Tipo usá-la para jogar videogame, o que mostra que alguns bons hábitos não morrem, como ler livros e quadrinhos, assistir Chaves e Chapolim, entre outras coisas, que me fazem parecer mais legal (ou não).



Mas então, olhando por esse lado, se pudesse fazer um pedido de aniversário, pediria por mais paciência. Para suportar os programas de domingo e, mais do que nunca, divertir-me com eles. Paciência com as pessoas, tipo aquelas que reclamam, mas não fazem nada para melhorar ou mudar de vida. As que botam a culpa dos próprios problemas nos outros, sem perceberem que são os principais responsáveis por eles. Mais paciência com os impostos, as contas, as taxas e a corrupção. Mais entendimento com as pessoas que ultrapassam pelo acostamento durante o trânsito engarrafado. Enfim, quero ser menos rabugento e ranzinza. E, se der certo, no próximo texto, provavelmente eu seja mais divertido e brincalhão, menos crítico principalmente. Talvez até passe a rir das piadas dos programas de domingo e torcer pelos participantes dos quadros dominicais. Mas, até lá, vou ficar com minha rabugência (essa palavra existe? Pode isso, Pasquale?) mesmo, degusta-la como um bom vinho envelhecido, procurando pelo em ovo às vezes (desde que não sejam ovos para atirar na minha cabeça) e reclamando inutilmente de coisas ainda mais inúteis. Afinal, reclamar é uma arte na qual a gente só piora com o tempo.


E feliz aniversário pra mim!



* Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
E-mail: lurodriguez@rabiscando.com



Só Quem É Sabe
 
Março/2013

Provavelmente você já deve ter ouvido alguém dizer isso. Seja pra explicar sua paixão pelo time de futebol, pelo seu fanatismo religioso ou pelo pretenso amor a um artista, enfim, geralmente por algum tipo de fanático sem argumentos. E se você, por acaso, é esse fanático, me desculpe, mas você é um idiota. Mas calma, explico.



Estou cansado de ver pessoas exaltando determinados comportamentos baseados em um amor incondicional e livre de contestação, sem argumento e com a justificativa de que “Só quem é (torcedor, fã, religioso) sabe”. Não, não sabe! Por exemplo, você pode escolher um time de futebol de acordo com a sua identificação, sua localização geográfica, seus gostos e tal. Pode torcer por ele, sofrer com a derrota, ficar feliz com a vitória. Mas “pelo amor dos meus filhinhos”, isso não te faz melhor que alguém, não te dá uma aura de “minha vida tem mais razão de existir porque eu torço pr'aquele time”. Não! E não importa se seja o Barcelona ou o time do Bar do Bigode! Ser torcedor é uma coisa que você escolhe, não importa o quanto diga que seu sangue tem a cor do seu time (torcedores do Internacional sempre terão razão nessa parte), que você nasceu torcedor, nada disso te difere dos “simples mortais” que vêm futebol pela TV e não acham que são melhores que os outros porque torcem pra algum time de futebol. A não ser que você seja do tipo que gosta de agredir torcedores de outro time, aí você se difere sim da raça humano, passando pra uma categoria animal.



Mas você pode não ser um torcedor fanático, curtir algo mais cultural como música ou interpretação. Daí você fica bitolado por aquele cantor, dupla sertaneja ou grupo de pagode, começa a achar que ele é perfeito, idealiza sua amizade, talvez até um relacionamento... critica a namorada dele no Twitter, vai aos shows, espera horas na fila pra poder vê-lo passar e quando isso acontece, chora, grita, se descabela. Juro que nunca entendi esse comportamento. “Mas só quem é entende”, não é mesmo? Mas, mesmo assim, alguém por favor tente me explicar, por favor, como alguém pode ser fanático por uma pessoa que nem conhece, muitas vezes porque ela canta alguma música que faz sucesso? Por exemplo, o Neymar. Por que, “pelas barbas do profeta”, as meninas choram pra vê-lo, se desesperam com sua presença, gritam sem parar até perder a voz, algumas meninas até tatuaram o nome dele no corpo... pelo amor de Deus, ele é um jogador de futebol! A maioria dessas meninas nem saberia explicar a regra do impedimento, mas vão lá! Poxa vida, ainda que o cara fosse o último remanescente de Krypton, enviado para a Terra momentos antes do seu planeta ser destruído e revelasse poderes acima dos humanos como voar e visão de raio-x, ainda assim, não faria sentido.



E claro, há os fanáticos religiosos. Que estão longe de ser fanáticos por Deus, não, eles são fanáticos pela sua própria religião e acreditam que só ela está certa e é capaz de levar as pessoas ao céu (ou aonde quer que queiram ir).



Mas não vou me prolongar, esses foram apenas alguns exemplos de fanáticos, existem muitos tipos por aí e se você é um fanático, não importa pelo que, há uma grande chance de que você seja um idiota. E não estou dizendo que não pode ter suas preferências esportivas, admirar o trabalho de personalidades famosas ou mesmo frequentar uma igreja, pelo contrário, todas essas atividades costumam ser absolutamente saudáveis, desde que você não se torne um fanático. Tenha em mente que futebol (ou o esporte que o agrade) é um esporte, entretenimento pra muitos, trabalho para outros e que não precisa – e nem deve – ser a razão da sua existência. Saiba que aquele artista que você morreria por ele, é uma pessoa como você, com a diferença, talvez, de que o trabalho dele tem muito mais exposição do que o de outros, mas nem por isso é mais importante do que todos os restantes. Admire as pessoas que fazem parte do seu convívio, seus pais, amigos e familiares. São eles que podem mudar a sua vida.



No fim das contas, pessoas são só pessoas e somos todos iguais. Alguns se destacam mais que outros, mas todos têm seu valor. E idolatria e fanatismo não tornam uma pessoa mais valorosa, apenas tornam o fanático um idiota.





* Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
E-mail: lurodriguez@rabiscando.com




Não Seja Esse Cara



Fevereiro/2013

O cara que bebe e sai por aí dirigindo. Que rouba TV a cabo, faz gato na rede elétrica e não devolve o troco errado. O cara que estaciona o carro em local proibido, ultrapassa em local não permitido e nunca respeita o limite de velocidade. Aquele cara que compra produtos de procedência duvidosa, sem se preocupar se ele foi roubado ou contrabandeado. Que dá “cinquentinha” pro guarda rodoviário pra não pegar multa. Que superfatura o valor do que compra pra empresa. Que leva material do trabalho pra casa como se fosse de graça. Esse cara. Não seja esse cara.

            Sei que o primeiro parágrafo não tá lá muito musical, as rimas quase não funcionam e a melodia não encaixa, mas esse não é o ponto importante. O que vale é não ser esse cara. Esse mesmo, que reclama que os políticos escondem dinheiro na cueca, desviam verba de merenda escolar, mas não devolve o troco a mais recebido no mercado, faz gambiarra pra não pagar pelos canais na TV por assinatura e compra produtos piratas com a desculpa de que eles deveriam custar mais barato, mas não percebe que apelar para a pirataria lhe priva do direito de exigir diminuição de preços. Que faz questão de brigar e participar de protestos quando seu time de futebol perde, mas não faz ideia de como protestar contra os maus políticos, principalmente porque, em quase todos os casos, acha que todos os políticos são ruins. Ou, no fundo, só sente inveja, já que se estivesse no lugar de algum deles, agiria da mesma forma com a desculpa de que “todo mundo faz”. Sabe esse cara? Não seja esse cara.

            Seja o cara que acredita que ser honesto é obrigação e não opção. Que trata as pessoas como gosta de ser tratado, respeita os mais velhos e os mais novos também. Que não tem vergonha de ser “certinho”. Que sabe torcer pelo seu time de futebol, mas entende que é um esporte e não está acima das outras pessoas, do direito e do respeito a cada uma delas. Que não acha que “todo mundo faz” significa que é menos errado e tem coragem de não ser parte de todo mundo.

            O cara que julga o próximo pela cor da pele ou pela opção sexual. O cara que acha que as pessoas podem ser categorizadas pelo salário ou pela quantia de dinheiro que possuem. Não seja esse cara.

Seja um cara correto, não seja fanático, não seja impaciente, não seja intolerante. Não se preocupe com a orientação sexual das pessoas, um sujeito heterossexual tem tanto potencial para o bem e para o mal quanto um homossexual e a cor da pele tem influência zero no caráter.

Mas não se iluda, não estou aqui para bancar o perfeito, para julgar ninguém ou dizer que sou o dono da verdade. O objetivo é apenas fazer pensar. Você escolhe quem quer ser, como quer agir, como quer enfrentar o mundo e que exemplos quer dar e seguir.

E aí, que cara você vai ser?


  * Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
E-mail: lurodriguez@rabiscando.com



 
Aprendendo a esperar

Janeiro/2013

Não me lembro qual foi a primeira coisa que aprendi, nem qual a primeira palavra que disse. Pode ter sido “mamãe”, como sempre acontece nos desenhos animados e nos filmes, ou pode ter sido “tô com fome”, que foi, sem sombra de dúvida, a frase que minha mãe mais ouviu de mim desde que aprendi a falar.


E também acho engraçado quando me perguntam qual a última coisa que aprendi e respondo, sempre bem-humorado e parafraseando Chaves: “Eu ainda não aprendi pela última vez”. Embora no seriado em exibição há quase três décadas na TV a piada seja com tomar banho, acho que a minha versão é uma grande verdade que aprendi.


Meu pai, por exemplo, que aprendeu muito desde que o conheço (tempo que equivale a toda a minha vida), vive repetindo que não importa o quanto você sabe, sempre vai ter alguém que sabe mais do que você. E vejo que ele tem razão, que desde que o médico me deu aquela palmada na sala de parto para que eu chorasse (deve ter sido mesmo minha primeira lição, essa coisa de chorar) que eu tenho aprendido, num processo constante, infindável e delicioso.



Aprendi a falar e a escutar, embora nem sempre esteja realmente ouvindo (principalmente quando estou digitando no computador, mesmo que esteja olhando para a pessoa, ao invés do teclado). Aprendi a ter amigos, embora não tenho aprendido a perdê-los e nem a ter inimigos. Aprendi a amar, mas só depois de aprender a superar quando as coisas dão errado e é preciso recomeçar tudo. Da mesma maneira que aprendi a chorar sozinho e não derramar lágrimas em público, para compactuar com o senso comum de que homem não chora. Aliás, isso me fez aprender que às vezes se desacredita na verdade e confia na mentira e que nem todas têm pernas curtas. Aprendi a digitar, a usar o computador (o que seria de mim sem ele?), nadar, andar de bicicleta e dirigir; a cantar desafinado, ler em voz alta e um pouco de inglês, espanhol e até japonês; um pouco de desenho, violão, karatê, e outros cursos que comecei pra nunca mais terminar. Aprendi que o escuro é só carente de luz, embora eu ainda tenha pesadelos com os zumbis de “A volta dos mortos-vivos” em algumas noites.


Com tanta coisa que já aprendi, é difícil fazer uma escala de importância, mas posso afirmar, com absoluta certeza, que aprender a ler e a escrever figuram no “Top Five”. Hoje sou capaz de realizar essas duas tarefas tão corriqueiras com razoável destreza, consigo ler e entender um texto só de passar os olhos por ele (habilidade que desenvolvi lendo trechos de gibis em bancas de jornal antes que o dono proibisse de folheá-las); e o tempo e o treino fizeram da palavra escrita uma amiga íntima e uma forma de me expressar com extrema paixão. Mas isso não surgiu do nada, não foi um dom divino que apareceu como o acender de uma luz.


Recordo-me dos primeiros passos para entender aquele monte de símbolos alienígenas e indecifráveis e o quanto eu odiava ter de pedir para que alguém lesse algo para mim. Lembro-me da minha companheira, a Caminho Suave, minha primeira cartilha, aquela espertinha, que me marcou com a “barriga do bebê” e do pobre cão que come na cuia. Vejo hoje minha jovem sobrinha passando pelo mesmo processo, e como é maravilhoso ficar lendo tudo o que se vê, muitas vezes devagar e em voz alta, e a satisfação de entender o que aquele punhado de letras significa.


E não consigo me imaginar num mundo onde esse prazer não seja possível. Onde a satisfação de ler um texto e compreender o que o autor quis nos dizer possa ser substituída. Acho até que, se as pessoas lessem mais, refletiriam melhor e teriam menos tempo para mal-dizer o próximo ou para planejar guerras, para atentar contra outros. E talvez, assim, o mundo fosse mais parecido com uma biblioteca: mais silencioso, mais agradável e com muitas prateleiras de sabedoria para compartilharmos.



* Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
E-mail: lurodriguez@rabiscando.com


  

O mundo não acabou. E agora?

 Dezembro/2012


Ok o mundo não acabou! Mesmo porque o jornal se antecipou e saiu antes da fatídica data, mas vamos acreditar que ele não vai mesmo acabar, o que significa que, assim como todos os anos, teremos de enfrentar as festas dezembrinas. Não que eu não goste, pelo contrário, ainda guardo com muito carinho as lembranças da infância, de quando dezembro era o mês de férias, em que eu podia dormir e acordar mais tarde, e brincar na rua ou jogar videogame sem me preocupar com a lição de casa.

Pois bem, cresci, meu pai parou de me bancar (uma hora isso ia mesmo acontecer) e dezembro não é mais um mês de férias e descontração, o que não quer dizer que as festas não possam ser animadas, embora, todo ano, sempre tem algumas coisas que acabam por se repetir, a saber:

 

O Natal. Ah, essa data tão bonita, em que você comemora o 13º salário comprando coisas que não precisa ou presenteando pessoas que depois vão ter de ir até a loja para trocar porque você sempre vai errar no modelo, na cor ou no tamanho do presente. Mas nunca fui uma pessoa de família natalina, na maioria das vezes eu passava pela data vendo os programas na TV ou jogando videogame mesmo. Na adolescência, frequentava as festas na casa de um amigo (muito boas, por sinal) e só na fase adulta que comecei a participar de agradáveis jantares em família na casa da minha sogra. Mas o Natal (sem fazer análise religiosa, apenas festiva) sempre me pareceu um prelúdio, uma pré-comemoração para a virada de ano. Essa sim, sempre recheada de diversão, muita festa, churrascos e queima de fogos.



E claro, promessas que sabemos que não vamos cumprir, mas que a esperança pelo início de um novo ano nos faz acreditar piamente que seja possível.

No entanto, mais do que apenas prometer, acho importante essa época para refletir pelo que se passou.




Olhar para trás e valorizar o que foi aprendido no caminho percorrido até aqui. E o quanto teve de ser deixado para trás, muitas vezes, às custas de boas doses de sacrifício. Tipo aquelas retrospectivas que todo canal de TV exibe sempre num horário que nunca dá pra assistir, sabe? 



Mas da nossa própria vida.

Fazendo uma análise rápida, esse ano muitas coisas me aconteceram. Mudei totalmente de emprego e levei um pouco de tempo pra me adaptar com as novas atividades, os novos colegas de trabalho e toda a rotina diferenciada. O site (www.rabiscando.com) que mantenho com meu amigo e sócio não avançou muito, devido nossa falta de tempo para nos dedicarmos com mais empenho, mas já fico feliz de saber que ele continua sobrevivendo e incluo maior dedicação entre as promessas de ano novo. Ainda na área profissional, lancei o meu segundo livro, com uma história inédita e o primeiro capítulo do que deve ser uma trilogia de um personagem bastante intrigante. O lançamento foi ótimo e o feedback dos leitores tem sido muito positivo, principalmente de pessoas que eu nunca havia conversado. 



Também comecei a correr com mais dedicação, participei de algumas provas e vou, pela primeira vez, participar de uma São Silvestre ao lado do meu pai, uma oportunidade tão boa que não há como descrever, considerando que há 2 anos meu pai fizera uma cirurgia e poderia ter ficado impossibilitado de praticar atividades físicas, então, esse é um dos meus melhores presentes.



Enfim , muitas coisas aconteceram e eu precisaria ficar divagando muito mais para falar sobre tudo (como, por exemplo, depois de 11 anos, trocar finalmente de carro), mas a ideia não é ficar me prolongando e sim, dar inspiração para que cada um repense a sua vida, avalie o que foi bom e o que foi ruim e, principalmente, seja capaz de aprender com tudo, com os erros e os acertos e procure sempre ser

uma pessoa melhor no futuro.



Melhor pro mundo, pros outros e pra si mesmo. Você não precisa esperar uma data específica para tentar mudar o que não está bom.

Mas se acha que isso é importante, se o mundo não acabar, é um bom motivo para começar. Boa nova vida e até 2013!


  E-mail: lurodrigues@rabiscando.com

 

Qual a Agenda do Fim do mundo?



Novembro/2012

Quando comecei a escrever o texto para a coluna desse mês, me dei conta de que ele pode ser o último, afinal, de acordo com os alarmistas, o mundo vai acabar no próximo dia 21! Isso me deixou confuso e percebi que precisava de umas explicações mais detalhadas com essa história de fim do mundo.
Por exemplo, será que vai acabar de uma vez ou será que vai ser em partes? Fim do mundo tem fuso-horário? Tipo, os japoneses vão chegar (ou partir, no caso) na nossa frente? E o horário de verão, vale?
Outra dúvida pertinente, o mundo vai acabar em fogo, em água, vai cair um meteoro, seremos atacados por alienígenas ou o cérebro das pessoas vai finalmente derreter por ouvir muito funk e Michel Teló?
E será que vai passar na televisão? Como seria? Imagino que começaria pela Rede TV, o programa da Luciana Gimenez adora uma polêmica. Poderiam chamar o padre Quevedo (que iria dizer que fim do mundo “non ecziste”), o Inri Cristo (que faria uma paródia para acompanhar) e talvez até o Toninho do Diabo. O melhor é que o canal nem precisaria dar cheque pré-datado pra depois do fim do mundo pensando em dar calote, porque qualquer um sabe que eles não vão pagar de qualquer jeito mesmo.
E a Bandeirantes? Iria colocar o Neto pra comentar e dizer que “’é brincadeira isso aí!”, com o Milton Neves fazendo propaganda (e pensando em processos) como se não houvesse amanhã. E dessa vez ele estaria certo, pelo menos!
No SBT, o Silvio Santos poderia exibir as Pegadinhas do Apocalipse, a Porta da Desesperança e o Pião da Cova Própria. Se bem que, conhecendo o histórico do SBT, é mais provável que ficasse passando Chaves até o mundo acabar. E talvez até depois.
Na Record não passaria nada, porque eles venderiam o horário para o Fala Que é o Fim do Mundo, pelo valor três vezes maior do que custaria o horário.
E a Globo, claro, sendo o maior canal do País, investiria bastante. Roberto Carlos faria seu show derradeiro. O Didi poderia apresentar o Fim do Mundo (sem) Esperança e se emocionar por estar tão próximo de se encontrar novamente com Mussum e Zacarias. No Programa do Jô, poderia rolar uma entrevista com a personalidade do momento (os aliens invasores, os funkeiros... ou até o meteoro, que, provavelmente, seria mais interessante que o funk).
E o final do mundo seria narrado pelo Galvão Bueno, com comentários do Casagrande e avaliação do Arnaldo Cesar Coelho. “Olha lá, olha lá! O meteoro caiu ali, no meio da cidade, a população sentiu e não gostou não. Falou pro meteoro: ô seu meteoro, aqui não! E aí Casagrande, no seu tempo de jogador, caiu algum meteoro?”. Bom, a não ser que o Casagrande tenha jogado com os dinossauros, acho que a resposta é não, né? “Opa! O alienígena chegou como quem não quer nada, fingiu que era amigo e de repente começou a destruir o mundo! Pode isso, Arnaldo?”.
Bom, então, parafraseando Jim Carrey em o Show de Truman, “Caso eu não os veja mais... bom dia, boa tarde e boa noite”. E bom fim do mundo pra todos!

pdcomics@hotmail.com

 

Como (não) ser um bom corredor




Luciano R. Rodrigues
Jornalista / Escritor
Assessor de imprensa da
prefeitura de Itupeva - SP
Chega uma hora que se percebe que não vai viver pra sempre e que é possível, no máximo, levar a vida o melhor que puder. Isso significa comer aquelas verduras e legumes que sua mãe te obrigava na infância, diminuir o refrigerante e as frituras e praticar atividades esportivas. E foi por isso que eu decidi começar a correr, atividade que venho praticando há um tempo, embora minha rotina de treinos caótica tenha atrapalhado um pouco para que eu possa ter um desempenho mais digno de nota.
Na última semana, participei de mais uma corrida, que foi muito boa, bem organizada e com um percurso legal. Um dos problemas, no entanto, foi a falta de água durante o trajeto, já que os dois únicos pontos de água ficaram sem reserva muito rápido e quando cheguei já não tinha mais. Isso me ensinou que quem vai devagar tem muito mais chance de vencer... vencer a desidratação, por exemplo.
Bom, logo depois do primeiro quilômetro, meu parceiro de corrida, o “fabianático” Elton Pavani, me mandou um "Vou acelerar, 'bonito'" e me deixou pra trás, sem suporte e preocupado. Mas minha preocupação não era por correr sozinho, já que tinha minha trilha sonora pessoal pra me
acompanhar (munida de muita salsa e merengue, além de Gangnam Style), mas como era uma corrida do G.A.C. (Grupo de Artilharia e Campanha), houve participação de dois grupos de soldados e, graças a isso, descobri que poucas coisas na vida assustam tanto quanto olhar para trás e ver um batalhão de soldados seminus (apenas de calça e sem camisa) cantando e correndo em sua direção. Isso é um grande incentivo para continuar correndo, mas minhas pernas não estavam de acordo com minha mente, então eles me ultrapassaram antes da metade  da prova. Imagino que até os mortos vivos de um bizarro apocalipse
zumbi levariam vantagem e me ultrapassariam . Aliás , ser ultrapassado é uma coisa que aconteceu bastante e, nessas horas, é preciso aprender a controlar o orgulho. Porque ser ultrapassado por corredores amadores não é nenhuma vergonha. Mas comecei a ficar um pouco chateado quando
senhoras de 90 anos me deixavam pra trás. Mesmo assim, continuei na corrida e fiz valer o meu treinamento (coisa de uma vez por semana) e também ultrapassei muitas pessoas (as que estavam sentadas nas calçadas assistindo a corrida, no caso).
Logo pela metade do trajeto, meu corpo começou entrar em modo de economia de energia, mas consegui manter o ritmo sem desistir. O suor escorria pela testa, minha camisa já estava ensopada e a sede aumentava.
Nos últimos dois quilômetros, começaram os trechos com subidas e percebi que seria a hora que a prova separaria os homens (que me deixaram pra trás) dos meninos (que também me deixaram pra trás), restando as pessoas com mais de 90 anos, as crianças de até 5 e pessoas pulando numa perna só (que também estavam na minha frente).
Mas havia outros atrás de mim, tipo aquele cara de moto que ficava gritando "Vai 'campeão', a gente não tem o dia todo". A essa altura da corrida , os pontos de água começaram realmente a fazer falta e descobri o que significa a expressão "suar sangue", pois não havia mais água no meu corpo e sangue era o único líquido que restava. Até pensei em desistir, mas lembrei daquele filme do Van Damme, “Retroceder nunca, render-se jamais”, foquei meus olhos na luz do fim do túnel (que devia ser o sol torrando meus neurônios, soltei um grito de guerra
que orgulharia o próprio William Wallace e seu “Coração Valente”, e dei tudo de mim! Foi nesse momento, quando ficou quente demais, havia água de menos, que aumentei a velocidade e ultrapassei muitas pessoas, percorrendo os quilômetros restantes em poucos minutos! ...aquela ambulância que me socorreu era realmente rápida!
Enfim, mais uma corrida concluída!
pdcomics@hotmail.com

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