Audiência Pública realizada em 9 de novembro em prol da inauguração do SPA que, desde 2009, o Governo do estado do Amazonas não cumpriu o prazo para inauguração
Entrevistas e fotos: Silvio Brasil de
Lima
E-mail: brasil_am@hotmail.com
Vereadora Nenê, autora do requerimento aprovado pelo plenário da CMTBT que culminou com a Audiência Pública:
“Primeiramente agradecer à Comissão de Saúde da CMTBT, a todos meus colegas
vereadores que se engajaram nessa luta que se arrasta desde a emancipação do
município, aos Procuradores da República, à Promotora de Justiça, ao Ten Cel Fleith e aos cidadãos que estiveram
presentes. Fomos eleitos pelo povo e somos fiscais do povo no legislativo
municipal. Tabatinga nunca teve um hospital civil que é um sonho de todos os
cidadãos que residem nesta cidade. Dependendo da enfermidade do paciente, o
mesmo tem que ser encaminhado para Manaus, em boa parte das vezes, sem ter as
mínimas condições financeiras de custear todas as despesas. O anseio da
população que nos procura diariamente, é no sentido de termos um hospital de
alta complexidade, bem como uma unidade da SAMU, profissionais especialistas
nas mais diversas áreas da medicina. Gostaria de citar um exemplo de médico
ortopedista que tem na cidade, que se defronta com uma grave situação, que é a
falta de material para que possa desempenhar suas funções e atender o paciente
de forma digna. O que acarreta o deslocamento do paciente para Manaus. Graças a
Deus temos o hospital militar – HGUT – que faz malabarismo dentro das suas
condições para atender a população, não só do Alto Solimões e Tabatinga, mas
também da Colômbia e Peru, nossos irmãos fronteiriços. O HGUT é um hospital de
média complexidade, trabalhando além das suas limitações, e o atendimento de
urgência, emergência e maternidade, estão extrapolados. Aproveito a
oportunidade para parabenizar o diretor do HGUT, Ten Cel Fleith e toda sua equipe que faz milagre com os recursos
disponíveis para atender, sobretudo nossos irmãos tabatinguenses.
Agradecer ao Ten Cel Fleith pela coragem em trazer a problemática para toda população,
no sentido de esclarecer a real situação em que se encontra a saúde em nossa
cidade. É importante que o povo tenha conhecimento desse fato, porque saúde está
garantida na CF e é dever do estado oferecer esse serviço aos cidadãos da nossa
região.
Gostaria de ressaltar que no dia da realização
da Audiência Pública (9/11/12 às 19:30h no Auditório Amazônia Régia), o
Secretário de Estado de Saúde, Dr. Wilson
Duarte Alecrim e o Secretário de Saúde do Interior, Dr. Evandro Melo, encontravam- se em
Tabatinga juntamente com sua comitiva, onde pela parte da manhã nos encontramos
no IFAM/TBT. Insistentemente pedimos para que ele (Dr. Wilson Alecrim) participasse dessa Audiência Pública, ou deixasse
um dos membros de sua comitiva para representá-lo nesse evento. A resposta que
tivemos foi a seguinte: ‘não poderia deixar nenhum de seus membros participar
dessa Audiência, porque a agenda já estava comprometida’. Perguntei se o ofício
que tinha em mãos em relação à inauguração do SPA/TBT, de que iria inaugurar
neste mês de novembro, respondeu- me o seguinte: ‘Não tinha previsão e nem
poderia falar’. O que se percebe é o total descaso por parte do Governo do Estado
do Amazonas aos munícipes que necessitam do serviço de saúde nessa região. Cremos
que as autoridades, que se fizeram presentes, irão tomar as devidas
providências no sentido de que o SPA/TBT seja inaugurado com médicos
especialistas nas mais diversas áreas, para darmos um basta à situação em que
se encontra a saúde em nossa cidade”.
Gostaria ainda, de plagiar as palavras
do Dr. Wilson Alecrim a respeito da
sua ausência nessa Audiência Pública, quando disse ‘que está com idade avançada
para estar batendo boca’. Fiquei pensando, porque não deixa o cargo para uma
pessoa que realmente possa se expor e esclarecer os fatos para a população, já
que disse que tem 65 anos, então, é melhor se aposentar.
Acredito que essa Audiência veio
esclarecer fatos que boa parte da população desconhecia. Estamos otimistas,
pois juntos com as autoridades que se fizeram presentes, mais o povo, iremos
conquistar esse sonho do SPA, que é obrigação e dever do estado em concluir e
entregar essa obra que já se arrasta há anos”.
Orlando
Carlos Fleith Sobrinho, Diretor do Hospital de Guarnição de Tabatinga – HGUT: “O que tenho a relatar sobre a situação da saúde, diz respeito à
consideração que a população merece. O hospital de Tabatinga (hospital civil
como chamam) que na realidade não é um hospital como o HGUT. Seria um Serviço
de Pronto Atendimento e Maternidade Básicas, urgências e emergências básicas e
maternidade. Ocorre que, o hospital e o Exército em geral, estão enfrentando
uma série de dificuldades institucionais, no que diz respeito a atração de
médicos. No próximo ano de 2013, teremos primeiramente o impacto das greves das
universidades federais que ocorreram neste ano de 2012, o que irá reduzir a
capacidade de tributação dessas faculdades para o serviço militar dos médicos,
é um problema. Além disso, a legislação do serviço militar está sendo
questionada na justiça e, muitos garotos que estão se formando agora, estão
ganhando na justiça o direito de não prestarem o serviço militar, é outra
complicação que estou enfrentando. Dessa maneira, com a liberação de mais da
metade dos meus médicos no próximo mês de janeiro, a gente tem que encontrar
uma alternativa. Foi com esse objetivo que a Câmara Municipal de Tabatinga
promoveu audiência pública, para que tenhamos, primeiramente uma resposta,
sobre quando vão se iniciar as atividades do SPA e Maternidade de Tabatinga e,
se isso for posterior a janeiro de 2013, que a gente tenha uma alternativa para
que a população não fique desamparada. Foi justamente esse o propósito, a quem eu
aplaudi por parte da CMTBT por intermédio da sua Comissão de Saúde.
A dificuldade que existe para
fixação de médicos no interior, não é exclusividade da Amazônia, claro que aqui
as situações são mais dramáticas em função do isolamento geográfico. Mas, mesmo
no interior dos estados lá das regiões sul e sudeste, essa dificuldade existe.
O Conselho Federal de Medicina entende que a melhor maneira de suprir essa
carência de médicos em localidades do interior, seja a criação da carreira de
médico de estado. A semelhança do que ocorre com a Justiça Federal, Policia
Federal ... em que dentro de um plano de carreira com a evolução ao longo do
tempo, com contagem de pontos a mais pra quem ficar em municípios isolados, o
estado brasileiro, o poder executivo por intermédio da criação dessa carreira
de médico de estado, seria, talvez, a melhor maneira para suprir essa
deficiência. É a opinião do Conselho Federal de Medicina, a qual eu concordo.
Normalmente os médicos mais novos fariam esse papel e depois estariam imigrando
para as cidades maiores.
Repito basicamente as frases de
lamentação do Poder Legislativo Municipal de TBT, dos Procuradores da República
em Tabatinga, da Promotora de Justiça em TBT, uma vez se a Secretaria de Estado
de Saúde estivesse presente nessa Audiência Pública, poderíamos ter algumas
respostas que nos afligem. Muitas perguntas poderiam estar respondidas e a gente
poderia estar pisando num terreno bem mais concreto pra que a população não
fique desamparada no fim de janeiro de 2013.
A população da regional do Alto
Solimões, particularmente a população de Tabatinga, pode ter a certeza de que a
vontade do Exército vai ser sempre reiterada no sentido de cooperar, como a
gente sempre coloca, no limite das nossas possibilidades. Esperamos das autoridades,
agora que chegamos num ponto crucial e, que realmente alguma situação
obrigatoriamente terá que ser adotada, que consigamos manter o atendimento nos
padrões que sempre procuramos em prol da população do Alto Solimões e Tabatinga
merecem”.
Dra. Márcia Cristina de Lima Oliveira, Promotora de Justiça do Estado
do Amazonas em Tabatinga.
“Primeiro a gente lamenta a posição do estado com o descaso em relação à
população de Tabatinga, esse abandono/entrega da saúde ao Hospital Militar,
como se fosse obrigação unicamente do HGUT, o que não é verdade. De outro lado,
temos também um desrespeito com os recursos públicos que foram investidos nesse
SPA, como você afirmou que ‘está entregue as baratas’. O Ministério Público do
Estado do Amazonas tem um procedimento para apurar essa omissão da SUSAM, não
somente o SPA abandonado, mas a omissão em atendimento à população. O
procedimento já está em fase de instrução, quando encerrada a instrução, caso o
Ministério Público Federal não acione a SUSAM por improbidade administrativa,
nós ajuizaremos essa ação. Quero deixar claro por que o MPF? Porque o MPF
compete a ele essa investigação do HGUT e, como está fazendo o procedimento
também para apurar a situação do HGUT, pode ser que amplie e, se chegue ao
hospital abandonado (SPA de responsabilidade do Governo do Estado do Amazonas).
Se na ação do MPF, nada for mencionado sobre o SPA para responsabilizar os
agentes públicos pelos gastos de recursos indevidos, aí o Ministério Público
Estadual entrará com ação de improbidade. O que depender do Ministério Público
de medidas judiciais a serem feitas, de diligências, não haverá nenhum tipo de
paralização. Contamos com o apoio do judiciário para que acate nossos pedidos
e, dê a resposta quando for acionado. Infelizmente o MP não decide sozinho, se
pudesse fazer, já teria feito há muito tempo, mas as ações com certeza a gente
vai tomar e a população não ficará desassistida”.
Carlos Augusto Toniolo Gdebel, Procurador da República em Tabatinga:
“O que a Procuradora da República no Município de Tabatinga tem pra falar para
população local é, que a saúde é um direito de todos os cidadãos e um dever do
poder público. Nesse sentido PR ajuizou uma ação civil pública no ano de 2008,
a qual já teve o seu intento de parcial precedente condenando o Estado do
Amazonas a contratar profissionais da área da saúde para prestar atendimento no
Hospital de Guarnição de Tabatinga. Essa sentença foi objeto de recurso e se
encontra atualmente no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, aguardando julgamento.
Por outro lado, mais recentemente começaram a chegar à Procuradoria da
República em Tabatinga, diversas notícias relatando uma série de problemas no
atendimento médico prestado pelo Hospital de Guarnição de Tabatinga. Como a
prestação de serviço médico pelo HGUT é diretamente influenciado pela
existência ou não de um outro hospital no município, mais precisamente em um
hospital a ser construído pelo Estado do Amazonas no município de Tabatinga, o
MPF, entenda por bem, no mesmo procedimento, de uma lado, cuidar da qualidade
da prestação de serviço médico pelo HGUT e, simultaneamente analisar a
construção dessa unidade de saúde, ou seja, hospital de Tabatinga pelo Estado
do Amazonas. Nesse sentido foi instaurado um procedimento na PRTBT, no qual foi
oficiado tanto o HGUT, solicitando que se informasse qual seria o número ideal
de profissionais da saúde que o Estado deveria manter naquela instituição e
quais efetivamente estavam sendo disponibilizados pelo estado. Havia notícia
também, que o HGUT iria encerrar o atendimento aos civis que houvesse uma
manifestação do HGUT sobre esse assunto. Mas, especificamente eles estavam
tratando com a Secretaria de Saúde do Estado a renovação do convênio, pelo qual
o HGUT presta serviços médicos à população civil. Por outro lado, foi
encaminhado ofício para a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas, no qual
também foi solicitado informações, de quais médicos especialistas a Secretaria
disponibiliza ao HGUT e, qual seria a previsão exata de inauguração/abertura
para população do SPA em Tabatinga. Solicitamos também informações mediante
ofício, se o SPA ao inaugurar, irá oferecer serviço de pronto atendimento, de
maternidade e da SAMUR. Os ofícios que enviamos solicitando essas informações,
até o exato momento não obtivemos respostas. Tão logo as respostas cheguem,
iremos estudar as providências cabíveis. Cabe dizer que o direito à saúde é
assegurado constitucionalmente, portanto o MPF vai lutar de todas as formas,
seja extrajudicialmente e judicialmente para garantir os direitos da
população”.
Marco Antonio Ghannage Barbosa, Procurador da República em Tabatinga: “Gostaria
de complementar de que nós vamos estudar e vê a possibilidade de executar essa
sentença de parcial procedência que a gente já ganhou perante a Justiça Federal
de Tabatinga que, está em fase recursal. Estudaremos se é viável executar de
modo antecipado essa sentença, de modo a obrigar que o Estado do Amazonas
encaminhe profissionais especialistas de saúde para Tabatinga, no sentido de
amenizar a situação atual”.
Nenhum comentário
Obrigado pelo seu comentário!!