Como (não) ser um bom corredor
Luciano R. Rodrigues Jornalista / Escritor Assessor de imprensa da prefeitura de Itupeva - SP |
Chega uma hora que se percebe que não vai viver
pra sempre e que é possível, no máximo, levar a vida o melhor que puder. Isso
significa comer aquelas verduras e legumes que sua mãe te obrigava na infância, diminuir o refrigerante
e as frituras e praticar atividades esportivas. E foi por isso que eu decidi
começar a correr, atividade que venho praticando há um tempo, embora minha
rotina de treinos caótica tenha atrapalhado um pouco para que eu possa ter um desempenho
mais digno de nota.
Na última semana, participei de mais uma
corrida, que foi muito boa, bem organizada e com um percurso legal. Um dos
problemas, no entanto, foi a falta de água durante o trajeto, já que os dois
únicos pontos de água ficaram sem reserva muito rápido e quando cheguei já não
tinha mais. Isso me ensinou que quem vai devagar tem muito mais chance de vencer...
vencer a desidratação, por exemplo.
Bom, logo depois do primeiro quilômetro, meu
parceiro de corrida, o “fabianático” Elton Pavani, me mandou um "Vou acelerar,
'bonito'" e me deixou pra trás, sem suporte e preocupado. Mas minha
preocupação não era por correr sozinho, já que tinha minha trilha sonora
pessoal pra me
acompanhar (munida de muita salsa e
merengue, além de Gangnam Style), mas como era uma corrida do G.A.C. (Grupo de
Artilharia e Campanha), houve participação de dois grupos de soldados e, graças
a isso, descobri que poucas coisas na vida assustam tanto quanto olhar para
trás e ver um batalhão de soldados seminus (apenas de calça e sem camisa)
cantando e correndo em sua direção. Isso é um grande incentivo para continuar
correndo, mas minhas pernas não estavam de acordo com minha mente, então eles me
ultrapassaram antes da metade da prova.
Imagino que até os mortos vivos de um bizarro apocalipse
zumbi levariam vantagem e me ultrapassariam .
Aliás , ser ultrapassado é uma coisa que aconteceu bastante e, nessas horas, é preciso
aprender a controlar o orgulho. Porque ser ultrapassado por corredores amadores
não é nenhuma vergonha. Mas comecei a ficar um pouco chateado quando
senhoras de 90 anos me deixavam pra trás.
Mesmo assim, continuei na corrida e fiz valer o meu treinamento (coisa de uma
vez por semana) e também ultrapassei muitas pessoas (as que estavam sentadas nas
calçadas assistindo a corrida, no caso).
Logo pela metade do trajeto, meu corpo
começou entrar em modo de economia de energia, mas consegui manter o ritmo sem
desistir. O suor escorria pela testa, minha camisa já estava ensopada e a sede
aumentava.
Nos últimos dois quilômetros, começaram os
trechos com subidas e percebi que seria a hora que a prova separaria os homens
(que me deixaram pra trás) dos meninos (que também me deixaram pra trás), restando
as pessoas com mais de 90 anos, as crianças de até 5 e pessoas pulando numa
perna só (que também estavam na minha frente).
Mas havia outros atrás de mim, tipo aquele
cara de moto que ficava gritando "Vai 'campeão', a gente não tem o dia
todo". A essa altura da corrida , os pontos de água começaram realmente a
fazer falta e descobri o que significa a expressão "suar sangue",
pois não havia mais água no meu corpo e sangue era o único líquido que restava.
Até pensei em desistir, mas lembrei daquele filme do Van Damme, “Retroceder nunca,
render-se jamais”, foquei meus olhos na luz do fim do túnel (que devia ser o
sol torrando meus neurônios, soltei um grito de guerra
que orgulharia o próprio William Wallace e
seu “Coração Valente”, e dei tudo de mim! Foi nesse momento, quando ficou
quente demais, havia água de menos, que aumentei a velocidade e ultrapassei
muitas pessoas, percorrendo os quilômetros restantes em poucos minutos!
...aquela ambulância que me socorreu era realmente rápida!
Enfim, mais uma corrida concluída!
pdcomics@hotmail.com
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