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Quando eu era criança


Quando eu era criança, achava que ia conquistar o mundo. Imaginava que, quando crescesse, seria rico, bonito, famoso e teria salvado a humanidade ou, pelo menos, ter participado ativamente de algo assim. Eu seria "O Escolhido", o próximo Neo. Eu estava predestinado a ser "the last man stand". Claro que o tempo passou, eu cresci, amadureci, caí na real e percebi que, pra começo de conversa, eu era preguiçoso e egoísta demais pra ser assim tão importante. Mas peraí? Quer dizer então que eu decepcionei aquela pobre criança que, duas décadas atrás sonhava com as estrelas? Não é bem assim... 

Pensando nisso, imaginei que se pudesse voltar no tempo, visitar a mim mesmo na infância, lá pelos 12 ou 14 anos, o que aquele garoto sonhador acharia. Ficaria chateado, desiludido? Desistiria de seus sonhos? E me surpreendi ao ver que não. Que no fim das contas, contando as mudanças de curso e os cálculos de novos destinos que fiz no GPS da minha vida, segui o caminho que sempre quis (claro, desconsiderando a parte de salvar o mundo e etc).

Sempre quis escrever, trabalhar e viver disso. Lembro quando, aos 9 ou 10 anos, minha professora da segunda série, a dona Terezinha, disse que sonhava com nosso sucesso, que seria uma realização um dia no futuro, pegar, por exemplo, um livro e ver meu nome como autor. E isso era um grande sonho meu, que consegui realizar, até agora com dois livros, a coletânea de contos "Crônicas Noturnas" e o romance (que não é um livro de amor) "Ted – Posso Ajudar?" e espero publicar muitos outros ainda. Sim, o mocorongo que eu era provavelmente perguntaria "Mas você ganha fortunas com os livros?". Claro que não. Mas como jornalista, me conforta poder trabalhar com uma coisa que me dá muito prazer e receber pra escrever. Isso é demais!

Mas nem todos os meus sonhos eram assim mesquinhos, eu também queria ser uma pessoa que vivesse bem com a família, tivesse bons amigos, pessoas em quem pudesse confiar e, principalmente, ser uma pessoa confiável. E fico muito feliz por ter várias pessoas com essas características na minha vida, desde os meus pais, família e vários bons amigos, que sempre fazem os tons de cinza do dia-a-dia ficarem mais coloridos e, claro, minha esposa que está sempre ao meu lado e que não poderia ser melhor nem se eu a tivesse imaginado.

Então, talvez eu até desse alguns conselhos pra mim mesmo. Umas dicas pra vida ser mais fácil, quem sabe? Tipo, "escolhe o Pikachu, escolhe o Pikachu!". Mas seria melhor não, essa trapaça poderia impedir que eu passasse por certas coisas e me privar do amadurecimento natural. E quando voltasse pro presente, talvez tudo estivesse diferente e eu fosse um engenheiro rico que desvia dinheiro público, ao invés de um jornalista pobre, mas feliz... Enfim, eu diria que vale a pena sermos nós mesmos, que os sonhos podem se alterar, alguns são deixados pra trás, mas que, nossa essência, pra continuar existindo, depende apenas da gente mesmo. É você, e ninguém mais, que vai decidir quem você será no futuro, que tipo de adulto vai se tornar.

Tirando os fatores externos e alheios à nossa vontade, tipo ter deixado o Will Smith salvar o mundo sozinho quando os alienígenas invadiram, hoje sou exatamente quem eu quero ser. E bastante feliz por onde cheguei e como cheguei. Espero que daqui a vinte anos, na próxima viagem de volta, a sensação seja a mesma.

E você, já olhou pra você mesmo e perguntou se era isso que queria pra você e pra sua vida? E se não era, está esperando o que pra mudar? Ao contrário do que afirmaria o Danilo Gentili em seu programa, nunca é tarde.

* Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
lurodriguez@rabiscando.com

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