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A Difícil Arte da Rabugência

Luciano R. Rodrigues
Esse mês, faço aniversário, completo 33 anos. “A idade de Cristo!”, diriam alguns, mas eu nunca entendi o motivo da comparação. Estariam sugerindo crucificar o aniversariante? Espero que não. Insinuando para que ele traga vinho, talvez? Posso providenciar. A não ser alguém esteja pensando em dirigir em seguida, o que a lei proíbe.

Besteiras à parte, foi-se há muito o tempo em que eu aguardava ansioso pra ganhar algum presente (uma espada de plástico do He-Man é o primeiro que me vem à mente) ou bolava estratégias para não tomar ovada na escola (e meu lado ninja sempre teve sucesso nesse quesito), e o que me restou foi a percepção de estar ficando velho, constatada pela rabugência, que eu costumo chamar de sensocrítico, mas que, muitas vezes, é só isso mesmo: rabugência.

Na infância, demorei um pouco para entender como ser paciente, muitas vezes minha colaboração em passeios com a minha mãe era comprada com um pastel e um guaraná (que tinha de ser Antarctica, senão eu não ficaria legal como as pessoas do comercial), mas aos poucos aprendi a esperar, aguardar, relevar; o que me tornou um sujeito calmo e de convivência fácil (segundo
pesquisas realizadas pela universidade de Massachusetts), por isso mesmo é difícil admitir que nem sempre consigo aceitar ou mesmo conviver tranquilamente com algumas coisas. Por exemplo, programação de domingo na TV. Conheço pessoas que se consideram amigos da Regina Casé e do pessoal que frequenta o Esquenta (rima bisonha na frase detectada). Outros fazem questão de ver artistas famosos chorando no Faustão, Gugu entregando casas ou os quadros enfadonhos do programa da Eliana. Mas pra mim? A TV poderia pegar fogo no domingo. E nos outros dias da semana também. Tento acreditar que essa postura é porque, graças à internet, acompanho quase tudo pelo computador (coisa de gente moderninha), mas sei que, no fundo, é só uma desculpa. Afinal, o Faustão está aí há... bom, desde que me lembro, pelo menos, e a culpa de não suportar suas piadolas ofensivas, recheadas de clichês datados, só pode ser minha. A música do Fantástico então, me dá vontade de pular da varanda. Coisa de gente ranzinza. Mas vá lá, tem coisas que eu gosto na TV. Tipo usá-la para jogar videogame, o que mostra que alguns bons hábitos não morrem, como ler livros e quadrinhos, assistir Chaves e Chapolim, entre outras coisas, que me fazem parecer mais legal (ou não).

Mas então, olhando por esse lado, se pudesse fazer um pedido de aniversário, pediria por mais paciência. Para suportar os programas de domingo e, mais do que nunca, divertir-me com eles. Paciência com as pessoas, tipo aquelas que reclamam, mas não fazem nada para melhorar ou mudar de vida. As que botam a culpa dos próprios problemas nos outros, sem perceberem que são os principais responsáveis por eles. Mais paciência com os impostos, as contas, as taxas e a corrupção. Mais entendimento com as pessoas que ultrapassam pelo acostamento durante o trânsito engarrafado. Enfim, quero ser menos rabugento e ranzinza. E, se der certo, no próximo texto, provavelmente eu seja mais divertido e brincalhão, menos crítico principalmente. Talvez até passe a rir das piadas dos programas de domingo e torcer pelos participantes dos quadros dominicais. Mas, até lá, vou ficar com minha rabugência (essa palavra existe? Pode isso, Pasquale?) mesmo, degusta-la como um bom vinho envelhecido, procurando pelo em ovo às vezes (desde que não sejam ovos para atirar na minha cabeça) e reclamando inutilmente de coisas ainda mais inúteis. Afinal, reclamar é uma arte na qual a gente só piora com o tempo.

E feliz aniversário pra mim!

* Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
E-mail: lurodriguez@rabiscando.com

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