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Acabou a pizza




Luciano R. Rodrigues*
Eu tinha um texto preparado pra coluna esse mês, já tava até escrito e revisado (mentira, tava só na mente...), mas não pude evitar escrever algo relacionado aos protestos e manifestações que tomaram conta do Brasil e influenciaram apoio de brasileiros espalhados pelo mundo.

Sou brasileiro (com muito orgulho, com muito amor... odeio essa música!) e fiquei bastante animado com tanta gente saindo às ruas, mostrando estar insatisfeito e disposto a mudar. O país tem uma quantidade tão grande de coisas erradas, que me admira conseguirmos suportar passivamente tanto tempo. Claro que havia focos aqui e ali, grupos lutando por seus direitos e reivindicando melhorias. Mas as injustiças continuavam, afinal, não havia força, até que os famigerados 20 centavos serviram de estopim para dar coragem de reclamar de muita coisa que não está certa. Mas ‘pera lá. Isso resolve? O Brasil agora vai virar o paraíso na Terra? Não é bem assim e ainda é muito cedo pra dizer que essa grande manifestação vai ter bons resultados, embora a primeira vitória, com a redução da tarifa dos ônibus em várias cidades, já tenha sido alcançada e seja inevitável reconhecer que esse levante é muito melhor do que a letargia. Por outro lado, é preciso muito cuidado com uma pequena parcela infiltrada nos grupos com interesses partidários ou que procuram benefícios próprios. Com relação aos vândalos e àqueles que praticam saque, nem vale a pena falar, mas também não dá pra ignorarque podem ter um papel importante em tudo isso.

Outra coisa que precisa ser levada consideração é o interesse político e do que está acontecendo. Não adianta ir pra rua de forma alienada, depois votar em qualquer um. Claro, ninguém quer um Big Brother com políticos e nem fazer do TV Senado o canal mais assistido da televisão, mas é preciso se informar, pesquisar em quem vai votar. É bem provável que a maioria das pessoas nem se lembre em quem votou nas últimas eleições. Porque não é só ir lá e apertar uns botões na urna, dar um voto pra quem tem mais chances de ganhar segundo as pesquisas, não, tem de fazer valer. Vote em quem você acredita que possa fazer alguma diferença, mesmo que ache que ele não tem chance de ganhar. Se não votar, ele não vai ganhar nunca mesmo.

De qualquer forma, conheço muitas pessoas que foram pra rua pra dizer “eu estava lá, lutando pra mudar o país”. Tenho orgulho do entusiasmo, embora também haja os que foram só pra tirar foto e colocar no Facebook, sem saber exatamente o que mudar ou como. Mas a verdade é que a mudança, para o bem ou para o mal, está aí, batendo às nossas portas, nas ruas e calçadas. São tantos lados que podem ser analisados, tantos caminhos que podem ser seguidos que é difícil prever o que virá a seguir. Há previsões otimistas e pessimistas e eu só espero que o melhor aconteça.

Mas é inegável que um dia, num futuro onde talvez nem eu ou você estejamos mais aqui, os livros de História vão se lembrar desses dias, vão falar da grande manifestação que começou em 2013 e movimentou todo o país e brasileiros espalhados pelo planeta inteiro. Talvez falem também de como as redes sociais da época e a internet tiveram um papel fundamental – para o bem e para o mal – no protesto. E nesse exato momento, estamos vendo a História acontecer. Mais do que isso, estamos fazendo parte dela. Nossos nomes não estarão lá, grafados, como D. Pedro ou Princesa Isabel, mas o que será do Brasil no futuro, é responsabilidade de cada um de nós. Que bons frutos floresçam dessa ação tão gigante que começou agora.

E que, talvez, nesses dias futuros, nas escolas as crianças aprendam que o Brasil é um dos melhores países do mundo para se viver e estudem esses dias como os que deram o pontapé inicial – com o perdão do trocadilho – para que isso fosse realidade.

E quando esse dia chegar, que “acabar em pizza” faça tanto sentido quanto “cair a ficha”.


* Jornalista//escritor
Assessor de imprensa da Prefeitura de Itupeva - SP
E-mail: lurodriguez@rabiscando.com

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